terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Conto de Natal



O Boneco de Neve que Ganhou Vida

Num dia de Inverno muito frio, mas cheio de sol, a Maria estava em casa, com o nariz colado ao vidro, a ver pela janela o jardim em frente à sua casa, todo branquinho de neve. Estava um bocado aborrecida porque não tinha ninguém com quem brincar naquele dia das férias do Natal. A Árvore de Natal e o Presépio estavam feitos, as bonecas não pareciam muito interessantes naquele momento.
Olhou para o prédio em frente e viu um outro nariz colado noutra janela: era o João, igualmente chateado por estar em casa com uma neve tão fofa lá em baixo e um sol tão convidativo. O João também a viu e, por gestos, convidaram-se um ao outro para irem brincar lá para baixo, para o jardim da praceta. “Vou pedir à minha mãe,” disse a Maria por fim, levantando o braço e fazendo o gesto de falar com uma pessoa grande. E desapareceu da janela.
A mãe ficou muito espantada por, depois de tanto silêncio, ouvir a filha em correria a chamar “Mãeeee! Mãeeeeeee!” Autorizou-a a ir lá para baixo com as recomendações do costume: não falar com desconhecidos, não se afastar para além do jardim, etc. E em menos tempo do que leva a escrevê-lo a Maria calçou as botas, vestiu o kispo, pôs um gorro, um cachecol e calçou as luvas. E aí estava ela, preparada para o frio e para a brincadeira.
Os dois amigos chegaram ao mesmo tempo ao jardim, contentes por terem saído de casa e haver alguma coisa divertida para fazer. Quando ficaram cansados da batalha de bolas de neve (até já tinham neve nas sobrancelhas) decidiram fazer um boneco de neve. Ficou um espectáculo, com um belo nariz de cenoura, olhos de pedrinhas brilhantes, o cachecol da Maria ao pescoço e o gorro do João na cabeça. Os dois amigos afastaram-se um pouco para apreciar a sua obra, satisfeitos. Maria sentia as mãos geladas de ter mexido na neve, por isso meteu-as nos bolsos, para as aquecer. Quando as tirou trazia, na mão direita, uma pilha que tinha guardado ali para pôr no game-boy: “Vou pôr-lhe uma pilha, para ver se ele se mexe”, disse a rir. Fez um buraquinho nas costas do boneco e enfiou lá a pilha que tapou de seguida com um bocadinho de neve.
E então aconteceu uma coisa estranhíssima, que deixou os dois amigos de boca aberta: o boneco transformou-se, piscou os olhos-pedrinhas e começou a mexer-se. “Está a mexer-se, está a mexer-se! Oh! O que é que aconteceu?!” gritou a Maria, aos saltos. “Ah! Já estava farto de estar quieto. Vamos brincar?” disse o boneco, com uma voz um bocado rouca mas perfeitamente compreensível.
Passados os primeiros momentos de estupefacção o João e a Maria, como miúdos que eram, aceitaram o boneco de neve animado com naturalidade: “Queres brincar connosco? Mas tu és um boneco de neve, ainda te desfazes!” “Agora não me desfaço, isso só me acontece quando estou parado,” - respondeu ele e fez uns movimentos, para lhes mostrar que falava verdade.
Daí a pouco estavam não dois mas três amigos em grandes brincadeiras naquele jardim. Brincaram às escondidas, o que deixava o Boneco de Neve em vantagem porque, escondido atrás das árvores, confundia-se com a neve e era difícil de encontrar. No baloiço ele era um bocado desajeitado, mas divertiram-se imenso no carrossel. Ouviam-se gargalhadas e corridas que espantavam os poucos pássaros que ainda paravam por ali.
Por fim a tarde, que é curta nos dias de Inverno, estava a chegar ao fim. Divertidos e cansados os amigos sentaram-se num dos bancos do jardim. O João e a Maria tinham de voltar para casa e estavam com pena de deixar o novo companheiro de brincadeiras, mas também não sabiam como se apresenta aos pais um amigo boneco de neve. Mesmo assim a Maria disse: “Vem comigo.” “Não posso”, disse o Boneco, “se entro na tua casa quente derreto-me, tu sabes. Tenho de ficar aqui. Mas gostei muito das nossas brincadeiras, foi uma tarde muito bem passada.” “Mas ficas aqui sozinho?” perguntou o João, para quem isso era o máximo da tristeza. “Eu também não gosto nada de estar sozinho, mas isso vocês podem resolver: antes de se irem embora façam uma boneca de neve e assim já fico com companhia.” “Mas achas que conseguimos fazer uma que se mexa e fale, como tu?” “Não tem importância, mesmo assim será igual a mim e faz-me companhia.” Deitaram mãos à obra e até o Boneco de Neve ajudou como pôde. Pouco depois estava uma linda boneca de neve erguida junto da árvore mais grossa do jardim, ao abrigo do vento. Desta vez estava ataviada com o cachecol do João e o gorro da Maria. Os olhos eram duas folhas verdes de uma árvore que não perdia as folhas no Outono, o nariz era um pauzinho muito redondo e a boca era a obra-prima: uma flor de Inverno, vermelha. O Boneco de Neve achou a sua companheira fantástica. Despediu-se dos amigos: “Adeus, voltem para casa. Agora eu fico bem”. “Até amanhã”, disseram eles, “amanhã vimos cá ter para brincarmos outra vez, pode ser?”
Mas no dia seguinte, logo a seguir ao pequeno-almoço, quando o João e a Maria, vieram a correr à procura dos bonecos de neve viram, espantados, que não estava lá nenhum deles. Nem havia nenhum monte de neve que lhes mostrasse que se tinham derretido. Só encontraram, no chão junto à árvore grossa, a pilha da Maria. Concluíram que tinham partido os dois, para algum lugar onde o Inverno nunca acabasse. “Talvez tenham ido para o País do Pai Natal, assim não correm o perigo de derreter”, disse a Maria. “Fico contente que o nosso Boneco não tenha ido sozinho”, completou o João. E assim tranquilizados, retomaram as brincadeiras a dois.
Dias depois chegou a véspera de Natal. O único dia do ano em que a Maria desejava que a noite chegasse depressa. Ao contrário dos adultos que, atarefados a preparar os doces e a ceia, desejavam que aquele dia passasse devagar. Bom, mas a noite chegou, com ela o jantar de família, pais, irmãos, primos, tios, tias, avós, enfim uma animação e um divertimento pegado. E finalmente a hora de ir para a cama e deixar a casa sossegada, para permitir que o Pai Natal venha e deixe os presentes ao pé da Árvore. De manhã, muito antes de qualquer outra pessoa, Maria estava na sala, extasiada a olhar para a quantidade de embrulhos que tinham ali aparecido durante a noite. Por cima daquilo tudo havia um envelope com o nome do destinatário claramente escrito, numa letra muito certinha de quem aprendeu a escrever há pouco tempo: “Amiga Maria”. Ela abriu a carta e tirou lá de dentro o que parecia um postal de Boas Festas. Qual não foi o seu espanto quando, olhando com mais atenção, viu ao lado um do outro, com um ar muito contente, o Boneco e a Boneca de neve, cada um com um emblema no cachecol que dizia “Ajudante do Pai Natal”. Nas costas da fotografia (porque era uma fotografia!) havia uma mensagem: “Não nos esquecemos de ti nem do João. Aqui fazem-se óptimas batalhas de neve, mas também trabalhamos muito. Bom Natal e esperamos que gostem dos presentes”.
Não precisamos de dizer que na casa da frente havia também um menino espantado e muito satisfeito, com um envelope que dizia “Amigo João”. “Nós tínhamos razão”, pensou o João, “eles foram para o País do Pai Natal... Para o ano, vou juntar à carta do Pai Natal uma carta para eles. Será que um dia vão convidar-nos para os visitar? Era uma bela ideia!...”
Quem sabe, João, quem sabe!...
FIM

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