terça-feira, 22 de julho de 2008

Férias Grandes









Os Amigos do Esquerdo vão de férias!







Descansar, acampar, piscinar, praiar, ver o mundo!
Voltamos quando os dias começarem a encurtar!
Desejamos a todos óptimas férias e prometemos, desde já, um mistério no parque de campismo!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Os amigos do esquerdo: Uma aventura em Carnide.


Esta história é só da filha (Carolina).

Num sábado de manhã, a Maria foi fazer um recado à mãe e no caminho viu uma placa que dizia, que ali à frente havia um buraco de dois metros, que antigamente servia para guardar os cereais. A Maria interessou-se por aquilo mas lembrou-se de que tinha de ir fazer o recado que a mãe pedira e então foi-se embora. Claro que não se esqueceu do que tinha visto e portanto resolveu depois ir outra vez ali para ver aquilo melhor. Na segunda-feira, no recreio a Maria contou o que tinha visto naquele sábado e os seus amigos e ela resolveram ir lá. Mas não sabiam como é que iam lá sem os seus pais. Pensaram, pensaram até que o Pedro pensou que o primo dele podia ir com eles. Quando o Pedro chegou a casa foi logo perguntar ao primo dele se ele queria ir com eles ver aquele buraco que parecia tão interessante. O primo que se chamava André disse logo que sim porque da ultima vez que tinha ido com eles a um sitio tinha-se divertido muito. Ao outro dia o primo do Pedro disse aos pais do Pedro que eles iam jogar à bola no parque mas quando disse isso estava a fazer figas.
Quando lá chegaram eles viram a tal placa a dizer para que servia aquilo antigamente. Quando olharam lá para baixo viram qualquer coisa a brilhar lá bem no fundo. De repente ouviram uma senhora a gritar:
- Roubaram-me!!! Roubaram-me!!! -repetia ela vezes sem fim.
Os meninos ao ouvir aquilo foram logo ver o que se passava e perguntaram à senhora o que se passava e ela só gaguejava:
- Rouba… Roubaram-me
- Roubaram-lhe o quê? Dinheiro? Jóias?
- Jói...Jóias. Mui…Muitas jóias!!!
- Mas não lhe roubaram mais nada?
- Não.
A Maria começou a raciocinar, juntando o que se tinha passado com o que eles tinham visto, e pensou que aquela coisa a brilhar podiam ser as jóias daquela senhora, e podiam ter sido roubadas na noite passada.
Como a Maria queria dizer aos amigos o que se tinha passado inventou uma desculpa para se irem embora dali. Quando já estavam bem longe da casa da senhora a Maria contou aos amigos o que tinha pensado e todos concordaram que era uma boa hipótese.
A seguir, puseram-se todos encostados ao vidro, ah pois, porque a Câmara tinha posto ali um vidro para ninguém cair lá para baixo. Eles continuavam a ver aquela coisa a brilhar mas não sabiam como é que podiam descobrir o que era aquilo. Entretanto o João disse:
-Aqui não estamos a fazer nada. Vamos mas é para casa e cada um pensa em hipóteses.
No dia seguinte eles ouviram dizer nas notícias que tinha havido vários assaltos no bairro. Quando ouviram aquilo foram logo dizer ao primo do Pedro para ele os levar outra vez lá para verem se ainda estava lá aquilo a brilhar. Para desilusão de todos já lá não estava nada, népia. Vendo aquilo o Pedro disse:
- Isto é impossível! Ainda ontem estava ali qualquer coisa e agora nem sinal.
Pensaram, pensaram até que o André disse:
-Eu sei que não devia, mas como foram vocês que me meteram nisto eu decidi que esta noite vimos para aqui espiar sem os vossos pais saberem e vemos o que acontece. Eles combinaram encontrar-se à porta de um café que era ali perto.
Nessa noite o primo do Pedro foi a cada uma das casas dos meninos e trouxe-os sem fazer barulho para os pais não ouvirem. Quando já estavam quase a chegar os miúdos começaram a pensar num sítio onde se pudessem esconder. Já escondidos, cada um no seu sítio esperaram até que acontecesse alguma coisa. Esperaram, esperaram até que ouviram um barulho vir do tal buraco. Quando ouviram aquilo viraram-se logo para lá para ver o que se passava. De repente ouviram dois homens a falar:
- Temos que esconder as jóias bem. -disse um deles
- Cala-te!!! Agora tira mas é essa porcaria do vidro com aquela ferramenta que tu tens!!!
A seguir de o homem tirar o vidro o outro agarrou numa escada muito grande e meteu-a lá dentro. Depois começou a descer. O outro homem foi logo a seguir mas este levava um saco do continente cheio até meio e parecia brilhar lá por dentro.
- Devem ser jóias. -disse o Pedro baixinho.
Quando eles tinham a certeza que os ladrões não os ouviam o André disse:
- Agora eu vou com o Pedro à esquadra de Carnide e vocês vão ficar aqui com o meu telemóvel e quando eles subirem filmam. Perceberam?
- Sim!!! - disseram eles em coro.
- Agora eu vou-me embora e tenham cuidado para não derem vistos. Adeus!!!
Passado algum tempo os miúdos ouviram passos de pessoas atrás deles e assustaram-se. Quando olharam para trás viram o pai da Maria e a mãe do João com ar de zangados e de aflitos ao mesmo tempo. Nesse momento a mãe do João disse:
- O que é que se passa aqui? -disse ela muito alto e com um tom de zangada.
Nesse momento ouviu-se um barulho vindo do buraco e o João disse baixinho:
- Eu explico depois agora baixem-se e dêem-me espaço para eu filmar.
A mãe e o pai não estavam a perceber nada mas baixaram-se à mesma.
Entretanto o André e o Pedro tinham chegado com a polícia e tinham-se escondido noutro sítio mais perto do buraco para quando os ladrões subissem atacarem.
Quando se viu que os ladrões já estavam cá fora os polícias apontaram-lhes as armas e levaram-nos para a esquadra e quando eles já não estavam com os polícias a mãe do João disse:
- Agora vamos nós ter uma converssinha senhor João…E eu também quero falar contigo André…
Depois nem queiram saber o que aconteceu a seguir, porque o João levou um sermão daqueles mesmo maus, e acreditem que os amigos dele também de certeza que levaram o mesmo, porque no outro dia, no recreio, não falavam doutra coisa senão da aventura que tinham tido e do sermão que tinham levado…

Carnide, 6 de Junho de 2008

sábado, 15 de março de 2008

Os amigos do esquerdo: assalto no supermercado


Num sábado de Inverno a mãe do João, com muitas coisas para fazer em casa, pediu à Avó para lhe ir fazer as compras da semana ao supermercado. O João que estava um bocado aborrecido, com o mau tempo lá fora e a televisão só a dar parvoíces, aceitou o convite para ir com ela. Estava mesmo a apetecer-lhe perder-se nas prateleiras dos brinquedos e fazer um lanchinho de pizza depois das compras. Convenceu a Avó a chamar a Maria, no andar de cima e lá foram os três, com a lista da mãe.
Despacharam as compras com bastante rapidez, porque todos ajudaram e o João até completou com algumas coisas que ele sabia que faziam falta, mas que a mãe não se tinha lembrado.
Não era para admirar, porque a mãe passava imensas horas a trabalhar e, muitas vezes, quando chegava a casa ainda trazia na cabeça as histórias que ficava a conhecer no trabalho. O pai queixava-se “a tua mãe anda sempre na lua”, mas o João não lhe levava a mal, até encontrava vantagens nisso, porque na hora de dormir a mãe contava-lhe algumas dessas histórias interessantes, que tinha lido na sua tarefa de escolher livros para publicar. Por isso, o João foi juntando no carrinho do supermercado aquelas coisas que a mãe tinha esquecido, orgulhoso de poder ajudar: os flocos que ela tomava ao pequeno-almoço, a pasta de dentes dele que se tinha acabado, o shampoo da natação, etc.
Estava a Maria a tirar umas bolachas da prateleira quando chocou com ela um destravado que vinha a correr, para tirar uma caixa da mesma prateleira. A Maria ia começar a protestar: “cuidado!” quando viu quem era: o Pedro que se equilibrou com dificuldade e abriu um sorriso entusiasmado: “Maria! O que estás aqui a fazer?” Ela riu-se: “O mesmo que tu, ora, estou às compras! Vim com a avó do João.” “O João está aí? Onde, onde?” E foram logo ter com o João, que esperava na fila do fiambre.
Estavam as compras feitas, as da lista e as extra lista e chegara a altura do lanche de pizza. Convidaram o Pedro. Os pais dele, que estavam ainda a começar as compras, agradeceram e autorizaram-no a aceitar o convite. Assim ficavam um bocado mais despreocupados para se concentrarem no que precisavam.
A Avó, o João, a Maria e o Pedro sentaram-se na esplanada, cada um com o seu tabuleiro. O carrinho das compras ficou à vista, num canto próximo. Comeram, conversaram e riram. A Avó ouvia-os e também entrava na conversa, ela apreciava bastante a companhia do neto e dos amigos. O Pedro estava muito animado. No caminho tinha vindo a protestar com os pais por ter de ir com eles ao supermercado: “Quando tiver 8 anos quero ficar sozinho em casa quando vocês forem às compras!” “Mas porque é que não posso ficar em casa, eu já sou crescido!” “Eu não abro a porta a ninguém, prometo!” E por aí fora, mas nenhum argumento convencera os pais. E ainda bem, porque entre ficar em casa sozinho ou vir comer pizza com os amigos nem se perguntava o que preferia! Contava esta história aos amigos e todos se riram. Imaginavam perfeitamente o Pedro a fazer uma cena daquele tipo, todo convencido que no ano seguinte já poderia fazer tudo o que agora não o deixavam. A Maria desiludiu-o: "Mas tu pensas que aos oito anos vais ser crescido? Eu tenho oito anos e ainda não me deixam ficar sozinha em casa. A não ser por uns minutos, para irem ao café lá em baixo.” “Mas tu querias ficar sozinha em casa também, Maria?” perguntou a Avó, intrigada. “É que é assim uma coisa de ser maior, percebe, faz-nos sentir menos criança.” respondeu a Maria. Ficou um momento em silêncio e depois continuou: “Eu na verdade às vezes tenho um bocadinho de medo” A Avó riu-se: “Deixa estar, eu também.” O Pedro, fanfarrão disse: “Quando me deixarem eu não vou ter medo nenhum!”
De repente o João, que estava calado a olhar para o lado onde tinham deixado o carrinho com as compras, gritou: “estão a roubar o nosso carrinho!” “O quê?!” Todos olharam para lá, estava um homem, como quem não quer a coisa, a começar a empurrar o carrinho deles, primeiro devagar depois a acelerar. O João levantou-se a gritar: “HEI, esse carrinho é nosso!” O Pedro e a Maria levantaram-se também, o homem desatou a correr, sem largar o carrinho, eles correram atrás dele por ali fora, a Avó vinha logo a seguir, também a gritar: “chamem um segurança, chamem um segurança.” Foi uma grande confusão! O homem, quando se viu assim perseguido, percebeu que para conseguir fugir tinha de deixar o carrinho. Já sem ele continuou a correr no meio das pessoas, mas o João continuou atrás dele e conseguiu passar-lhe uma rasteira que o desequilibrou. Veio um segurança, depois chegou o Pedro, depois a Maria. A Avó chegou daí a pouco, com o carrinho das compras, preocupada se alguém se magoara.
O segurança segurava o homem, que olhava com um ar muito desgostoso para todos. A Avó falou com ele: “Mas o que é que lhe passou pela cabeça, por amor de Deus?” “Têm de vir comigo, vou chamar a Polícia e depois apresentam queixa”, disse o segurança. A avó do João olhava para o ladrão com um ar pensativo. Percebia-se que o homem estava quase a chorar mas a tentar aguentar-se. Então a Avó disse: “Deixe estar, nós não queremos apresentar queixa, recuperámos as nossas coisas e isso é que é importante.” Todos olharam para ela com um ar muito surpreendido. Até o ladrão que deve ter sido o mais surpreendido de todos. “Muito obrigada, minha senhora,” disse ele. “Nem calcula como isso é importante para mim. Peço desculpa, mas é que estou a passar grandes dificuldades de dinheiro e vi ali o carrinho, parecia que ninguém estava a tomar conta dele… Mas afinal este rapaz estava. É corajoso, o miúdo!” “Mesmo que ninguém estivesse a ver o senhor sabia que aquelas coisas eram de alguém.” disse a Avó. “O que o senhor fez não se faz! Mas eu não quero aumentar as dificuldades da sua vida.” O segurança estava um bocado contrariado, mas se a avó não queria apresentar queixa e não tinha chegado a haver realmente um roubo era melhor deixar o homem ir embora. Foi o que fizeram.
Viram-no afastar-se, depois de voltar a agradecer à Avó. Começaram a falar todos ao mesmo tempo, excitados, a discutirem se era certo ou errado deixarem-no ir. A Avó explicou a sua atitude o melhor que conseguiu: “Sabem”, disse ela, “se ele é realmente um ladrão vai voltar a roubar e, mais tarde ou mais cedo, vai ser apanhado. Mas se é apenas um homem normal, a passar por grandes problemas na vida, isto vai servir-lhe de lição e é provável que não volte a fazer uma coisa tão tola.”
Quando se juntaram aos pais do Pedro estes nem queriam acreditar no que lhes contavam, como é que tinha acontecido aquilo tudo em tão pouco tempo?! Mas o pior foi mais tarde, quando chegaram a casa do João. A mãe caiu das nuvens, preocupadíssima: “Só vos acontecem coisas malucas!” E voltando-se para a Avó: “Oh mãe, mas como é que é possível? Como é que deixou os miúdos irem correr atrás dum ladrão? Podia ser perigoso! Estas confusões só se passam mesmo consigo!” “Oh minha querida, deixa estar que tu, no teu tempo, também me arranjaste algumas confusões que não ficaram nada atrás desta!” respondeu a Avó, com um ar muito tranquilo. “Por isso é melhor agradecermos que tudo tenha acabado bem e esquecer o assunto, não acham?”
Mas depois do que a Avó tinha dito não era possível esquecer. A mãe quando era criança tinha-se metido em confusões? Que confusões? Devia ser bem interessante! “Conta, Avó, conta” dizia o João, “conta lá as confusões da minha mãe!” O João e a Maria insistiram e a Avó, que gostava sempre de contar as histórias de antigamente, dispôs-se a contar, mesmo perante o ar desconfiado da filha que nem imaginava que história podia sair dali.

(continua)

sábado, 16 de fevereiro de 2008

História antiquada para o dia dos namorados

Autoria: Novamente a Mãe e a Filha


Era uma vez um jovem príncipe, muito simpático mas também muito difícil de contentar. Sempre que os pais lhe perguntavam porque não se casava, ele respondia: “Porque nunca encontrei uma verdadeira princesa!” E o que queria ele dizer com isto? É que ele não queria apenas uma menina com o título de princesa, queria que ela fosse também uma pessoa delicada, doce e corajosa, como devem ser as princesas de verdade.

Um dia, andava o príncipe a caçar no bosque, com outros amigos cavaleiros quando, numa clareira, viram uma jovem muito bonita. Tinha uns longos cabelos castanhos, olhos grandes, muito escuros, com pestanas negras e longas que tornavam o seu olhar muito doce. O fato cor de rosa que trazia realçava a pele morena que parecia tão de seda como o vestido. Ela estava de pé, junto a uma árvore e, com gestos e gritos, procurava espantar uma raposa que tentava chegar a uma toca onde tremiam uns filhotes de coelho muito pequenos e indefesos. Quando os cavaleiros se aproximaram a raposa, que já estava a recuar, desapareceu por entre as árvores e o príncipe impressionado com a coragem daquela rapariga desmontou e apresentou-se. Ficaram ali os dois a conversar um bom bocado. Ele ficou a saber que ela vivia num outro país e tinha vindo com os pais visitar uns familiares. E, espanto dos espantos, ela era princesa, filha do rei e da rainha do outro país.

Regressando ao castelo o príncipe foi logo anunciar a novidade aos pais: “Encontrei uma princesa de verdade! Vou fazer o que há tanto tempo os pais e o povo desejam: casar com ela. Podem começar a preparar tudo!”

Ora no caso de príncipes e princesas preparar tudo significa, em primeiro lugar, entender-se com os pais da noiva. E o rei, pai da princesa, não queria uma pessoa qualquer para casar com a sua filha. Também ele desejava um rapaz corajoso e bom que pudesse ser para ela um digno companheiro para a vida. Assim disse ao príncipe: “Só podes casar com a minha filha se conseguires passar três provas:
Na primeira terás de vencer um torneio com o cavaleiro mais valente do meu reino. Na segunda terás de trazer o tesouro da bruxa má que vive na floresta e anda sempre a lançar feitiços sobre o meu povo. Na terceira tens de conseguir que a minha filha goste de ti e queira casar contigo.”

O príncipe estava muito apaixonado e por isso aceitou fazer aquelas provas.

Prepararam o torneio no castelo: numa grande praça construíram bancadas para quem quisesse assistir e um palanque onde se instalaram os reis com as suas famílias. Tudo enfeitado com fitas coloridas e estandartes esvoaçantes, que era esse o hábito naqueles países. Veio o cavaleiro valente com uma armadura brilhante e começou a luta. Os adversários tinham umas lanças compridas com as quais tentavam deitar o outro abaixo do cavalo; cavalgavam um em direcção ao outro, levantando nuvens de pó, cruzavam as lanças com toda a força e avançavam por ali fora até que voltavam novamente à carga. Das bancadas chegavam gritos: “força, príncipe, força” ou “força cavaleiro valente”, cada povo apoiava o seu favorito. Eles, animados por estas vozes lutavam ainda com mais entusiasmo. Eram ambos muito bons cavaleiros, hábeis a manejar as lanças, por isso era difícil saber quem ia ganhar. Até que o príncipe conseguiu dar uma lançada muito certeira e, com a ajuda do seu cavalo que se inclinou no momento certo, fez o adversário cair. Foi então declarado vencedor e aclamado por todo o povo. Já muita gente pensava que ele merecia casar com a princesa.

Mas havia mais provas a ultrapassar. Passados os festejos pela vitória no torneio, o príncipe começou a preparar-se para enfrentar a bruxa. Felizmente vinte anos atrás, no tempo do seu nascimento, os pais tinham tido a boa ideia de convidar para madrinha uma fada que vivia no seu reino. Agora foi procurá-la para se aconselhar sobre a melhor forma de lidar com a bruxa. Afinal bruxas e fadas têm um trabalho parecido, a diferença é que umas usam os seus poderes para fazer o mal e as outras usam-nos para fazer o bem. Mas são ambas entendidas em feitiços. A fada-madrinha ouviu com atenção o afilhado e depois de lhe explicar como podia defender-se de alguns feitiços, como por exemplo evitar que a bruxa o transformasse num rato, deu-lhe uns pós mágicos que faziam dormir.

O príncipe foi então para a floresta procurar a casa da bruxa que não demorou a encontrar. Tinha uma clareira à volta em que as árvores e as ervas em vez de serem verdes eram negras, como se um incêndio tivesse passado por ali. Por sorte a bruxa tinha saído para apanhar minhocas, aranhas e pelos de morcego para as suas poções. Ele escondeu-se dentro da casa, à espera que ela voltasse. “Cheira-me a carne humana” disse a bruxa para o seu corvo de estimação quando estava a entrar em casa (ela tinha um olfacto muito apurado, como o ogre do conto “O Pequeno Polegar”). Mas não teve tempo para dizer mais nada, porque o príncipe lançou os pós de fazer dormir e ela caiu logo ali redonda e começou imediatamente a ressonar. O corvo voou a grasnar, mas os pós também o tinham atingido e só teve tempo de chegar ao seu poleiro, antes de ir fazer companhia à dona, no mundo dos sonhos. O príncipe de seguida foi procurar o tesouro que estava, imaginem, ao lado do caldeirão onde a bruxa cozinhava as suas poções, tão segura ela estava de que ninguém se atreveria a chegar perto da sua casa.

Foi logo levar o tesouro ao rei – pai da princesa, muito aliviado por ter conseguido vencer a bruxa. Este ordenou-lhe: “Agora terás de decidir o que fazer com todo este ouro e estas pedras preciosas.” O príncipe respondeu: “Já que a bruxa tem prejudicado tanto o povo deste reino, queimando as culturas, destruindo-lhes casas e outras acções maléficas eu decido que o tesouro deve ser dividido entre todas as pessoas a quem ela fez mal.” Então o rei disse: “Esta era a parte mais importante desta prova e tu acabas de passá-la: revelaste que o teu coração é tão generoso como valente e por isso tens o meu consentimento para casar com a minha filha. Mas falta a terceira prova: tens de conseguir que ela te aceite, pois eu não sou daqueles pais antiquados que decidem pelas filhas com quem elas devem casar-se.”

E o príncipe partiu para a terceira prova: conquistar o coração da princesa. Comparada com as tarefas anteriores, esta até parece fácil, não é? Mas não foi bem assim. Sabem porquê? Porque, como todos os apaixonados perto da mulher amada, ele ficou um bocado tímido. A fada-madrinha foi novamente uma ajuda preciosa. Explicou-lhe que as raparigas, especialmente as verdadeiras princesas, gostam muito de conversar e de ouvir palavras bonitas e preferem os rapazes que se mostram atenciosos e bons companheiros. Que dão mais valor à oferta de uma flor do que a uma prenda que custe muito dinheiro. O príncipe seguiu os seus conselhos e passou uns belos momentos de conversa com a princesa, passeando pelos jardins do palácio. Levou uma rosa vermelha para lhe oferecer e, pelo sim pelo não, vestiu um bonito fato. Foi assim que a pediu em casamento e prometeu que ia ser um bom marido. A princesa tinha admirado bastante a valentia do príncipe no torneio. Não gritara, como os espectadores das bancadas, mas baixinho torcera por ele. E pensava que ele fora muito corajoso ao aceitar todos os desafios que o rei seu pai lhe impusera. Tinham sido grandes provas de amor e não há dúvida que merecia o amor que ela também sentia por ele. Por isso aceitou a flor e a promessa e disse: “Está bem, eu caso contigo”.

Foram depressa contar a novidade aos respectivos pais. Estes ficaram muito satisfeitos. Anunciou-se logo o casamento que foi ocasião de grande alegria e divertimento para os habitantes dos dois reinos. Naqueles dias (porque a festa do casamento durou vários dias) não houve fronteiras, todos foram convidados a participar na festa, comendo, cantando e dançando. Menos a bruxa, claro, que continuava a dormir e ainda não sabia de nada.

No fim da festa os recém-casados partiram em viagem. No regresso instalaram-se num palácio construído mesmo na fronteira entre os dois reinos, tiveram muitos filhos e viveram felizes para sempre.
FIM

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O Mistério dos Fatos Desaparecidos - II Parte


Autoria: Ideias da Filha, escrita da Mãe

Então uns dias depois, quando o fato seguinte ficou pronto, o alfaiate colocou-o no enorme armário das roupas. Tinha chamado o rei e juntos esconderam-se atrás dos sofás do quarto e esperaram. Estava tudo silencioso à volta deles, só se ouviam ao longe os ruídos da vida no palácio, amortecidos pelos cortinados espessos: carruagens que chegavam e partiam, criados que se movimentavam nas suas tarefas de limpeza e arrumação, o jardineiro que trabalhava no jardim e cantarolava enquanto arrancava ervas daninhas. A certa altura ouviram-se passos, eles pensaram que finalmente o ladrão ia aparecer. Mas logo vozes acompanharam os passos, eram algumas damas do palácio que conversavam e riam, a caminho do chá. O rei, farto daquela posição, acocorado atrás do sofá, começou a sentir-se ridículo: “Ora aí está”, disse ele, “não há ladrão nenhum, tu é que me andas a enganar. Vou sair daqui para fora, estou com fome e é hora do chá!” “Esperemos mais um pouco”, disse o alfaiate e ia acrescentar mais qualquer coisa quando o puxador da porta começou a mexer-se. Esconderam-se melhor atrás dos sofás, fizeram silêncio, suspenderam a respiração. Alguém entrou no quarto em bicos dos pés, procurando não fazer barulho e dirigiu-se ao roupeiro, abriu-o com muito cuidado e parou por momentos, à procura. Depois estendeu o braço e retirou lá de dentro o fato novo. O rei e o alfaiate ainda não tinham visto quem era, esperavam para apanharem o ladrão mesmo a tirar o que procurava. Quando ouviram o ruído do tecido saltaram ao mesmo tempo detrás dos seus esconderijos: “Ah ladrão, estás apanhado!”

E qual não foi o seu espanto quando viram... a rainha. Era mesmo ela, com o fato novo nos braços, virando-se muito surpreendida. Mas rapidamente recuperou do espanto e enfrentou-os, furiosa com o rei: “Apanhaste-me sim senhor, mas o que eu queria era dar-te uma lição e está dada! Já não suportava a tua vaidade. Os nossos filhos e eu não conseguimos ter uma roupa nova, porque o alfaiate está sempre atarefado com as tuas encomendas! As pessoas pensam que tu és um péssimo rei, porque estás mais ocupado com a tua vaidade do que com os assuntos importantes do teu reino. E os teus conselheiros tentaram falar contigo, mas nunca lhes deste ouvidos. Tinha de fazer qualquer coisa antes que todo o povo se revoltasse e escolhesse outra pessoa para governar.”

Agora o surpreendido era o rei. Nunca tinha pensado nas coisas desta maneira. Também nunca ninguém lhe tinha falado assim, porque ninguém se atrevia, afinal ele era o rei. Por momentos lembrou-se das conversas dos seus conselheiros e ministros, da aposta que tinha feito com o costureiro. Olhou de novo para a rainha e reparou que ela era muito bonita e ainda mais assim, zangada, com os olhos brilhantes. Percebeu que todos os que lhe tinham chamado a atenção para o excesso da sua vaidade tinham razão e em vez de chatos, como ele os tinha chamado, eram os seus verdadeiros amigos.

Voltou-se para o alfaiate e pediu-lhe desculpa pela falsa acusação que lhe fizera. Disse como estava arrependido e tencionava cumprir a sua parte da aposta que tinha perdido, pedindo apenas os fatos novos que fossem necessários. Depois, dirigindo-se à sua mulher, agarrou carinhosamente na mão dela e disse: “E tu perdoa-me também, minha rainha. Tenho sido muito parvo. Será que aceitas vir lanchar comigo, só nós dois, para te mostrar como estou arrependido? Ela que, apesar de tudo, gostava dele respondeu: “Aceito, quero bolo de nozes e chá de jasmim.” E pela primeira vez, desde há muitos anos, o rei esqueceu-se de mudar de roupa para a hora do chá.

FIM

domingo, 10 de fevereiro de 2008

O Mistério dos Fatos Desaparecidos - I Parte

Autoria: Ideias da Filha, escrita da Mãe

Era uma vez, num país distante, um rei muito vaidoso, parecido com aquele da história “O Rei Vai Nu” que queria ter sempre fatos novos. No quarto dele havia pelo menos uma dúzia de espelhos e todos os dias de manhã o rei se mirava neles, de frente, por trás, de lado e achava-se bonito e elegante. Só depois saía do quarto, todo aperaltado, para os seus afazeres de rei que, como calculam, eram muitos. E durante o dia voltava muitas vezes, para mudar de roupa e fazer novamente o exame da elegância, porque detestava repetir toilletes e queria estar sempre bem vestido, de acordo com as ocasiões. Para se encontrar com o primeiro-ministro vestia-se de uma maneira, para almoçar com a rainha e os príncipes de outra e ainda mudava para ir visitar os seus súbditos, em alguma inauguração que fosse necessário fazer.

À noite havia sempre muitas festas e o rei não suportava não ser o mais bem vestido entre todos os convidados.

No palácio havia um alfaiate, que estava ao serviço da família do rei há muitos anos e que nunca tivera tanto que fazer. Foi preciso contratar-lhe ajudantes e mesmo assim tinham de trabalhar até tarde, às vezes pela noite dentro.

Alguns dos conselheiros do rei chamavam-lhe a atenção porque, com aquela vaidade toda, ele não pensava em mais ninguém e acabava por não ser um bom governante. Gastava muito dinheiro e tempo a vestir-se e a ver-se ao espelho e não se ocupava dos assuntos do reino como deve ser. Mas o rei não os ouvia, dizia que eles tinham era inveja da sua elegância, o que deixava os conselheiros muito descontentes. Já faziam reuniões para resolver o problema, diziam uns para os outros que o melhor era substituir aquele rei pela rainha ou por um dos seus filhos que seriam melhores para o povo.

Um dia, depois do jantar, o rei dirigiu-se ao quarto, para vestir um fato novo que o alfaiate lá devia ter deixado. Era para ele estrear em mais uma festa do palácio, nessa noite. Mas não estava lá nenhum fato novo. O rei chamou imediatamente o alfaiate, para lhe pedir contas. Este, muito espantado, viu que o fato tinha desaparecido. Só que o rei não acreditou e acusou-o de não ter feito roupa nenhuma e estar a querer enganá-lo. Nada do que o alfaiate disse o convenceu e o rei ameaçou que o castigava se voltasse a acontecer uma coisa daquelas.

E é que aconteceu mesmo: a partir daí, cada vez que o rei ia mudar de roupa e contava encontrar no roupeiro mais um fato novo de tecido delicado e colorido, só lá estavam os que já tinha usado e não tinha outro remédio senão vestir um deles. Os súbditos, que já andavam a ficar irritados com aquela mania do rei vaidoso, começaram novamente a achá-lo mais simpático, a pensar que ele tinha mudado e que talvez se transformasse finalmente num bom rei.

Mas ele não se conformava e, depois de muito discutir com o alfaiate, disse que o despedia e que ia contratar outra pessoa em quem pudesse confiar. O alfaiate não achou graça nenhuma ao caso. Ele sabia que tinha posto a roupa nova no armário e que ela não estava lá quando o rei chegava. Não estava disposto a ser despedido por causa de uma coisa que não tinha feito, sem primeiro tentar descobrir o que se estava a passar. Disse ao rei:
-Está bem, V. Alteza despede-me mas antes tem de me dar a oportunidade de descobrir quem anda a roubar os seus fatos. Porque está a cometer uma grande injustiça e ainda se vai arrepender.
O rei gostava dele e, principalmente, tinha muita consideração pelo seu gosto e pela sua competência profissional, por isso disse:
-Eu dou-te essa oportunidade que me pedes. Diz-me o que tencionas fazer.
O alfaiate contou-lhe o plano em que tinha pensado e até apostou com o rei que nunca mais fazia um fato se não descobrisse aquele mistério e provasse que tinha razão. Queria que o rei, por sua vez apostasse que se ele, alfaiate, tivesse razão se tornava mais razoável e só pedia fatos novos quando fosse realmente necessário. Como toda a gente no reino já estava um bocado farto daquela vaidade, apesar dela lhe proporcionar um bom emprego. Tinha vontade de trabalhar para outras pessoas, experimentar outros gostos, por exemplo o da rainha, que era muito elegante, mas em quem o rei pouco reparava, ocupado com a sua própria figura. (continua)

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

A Minha Páscoa na Aldeia





Quando eu era pequena, da idade dos meninos e das meninas do Jardim de Infância e da Escola Primária, vivia em Lisboa, mas muitas vezes ia passar as férias da Páscoa a uma aldeia chamada Caféde, que fica perto de uma cidade chamada Castelo Branco, na Beira Baixa.

Como a Páscoa é na Primavera, nessa altura a aldeia estava muito bonita e cheirava muito bem porque havia muitas flores, malmequeres, flores amarelas que se podiam comer e outras de que não sei os nomes. Também já estava calor e podíamos vestir t-shirts e, às vezes, andar de sandálias. Eu, as minhas irmãs e os primos e primas adorávamos a Páscoa por causa de tudo isto (o calor, as flores, o cheiro, andar na rua) e também porque havia muitas festas e muitos doces.

Do que me lembro é que havia um dia em que se faziam muitos bolos: uns bolos especiais da Páscoa, com feitio de montes, uns espalmados enfeitados com umas garfadas e uns pequenos e redondos que se chamavam “esquecidos” e que eram os meus preferidos. Esses bolos faziam-se no forno de lenha que as minhas tias tinham no quintal da casa delas, que era enorme, parecia o forno da bruxa da história da casinha de chocolate, tão grande que ele era. Toda a gente ajudava e nós andávamos por ali à volta, à espera, para comer os primeiros bolos quentes que ficavam prontos. Para pôr e tirar os bolos do forno havia uma pá com um cabo muito comprido, quase maior que uma criança!

No Domingo de Páscoa, logo de manhã, vestíamos umas roupas muito bonitas e íamos todos à missa: as mães, os pais, as tias, os tios, as crianças... Quando voltávamos para casa punha-se a mesa, com uma toalha branca de linho, enfeitada com malmequeres que apanhávamos no quintal. Sobre a mesa ficavam os bolos, amêndoas e outros doces e guloseimas. Também havia licores e sumos. Era uma tentação.

Em todas as casas da aldeia se fazia a mesma coisa. E o padre saía da Igreja com as suas roupas especiais, acompanhado de uns meninos vestidos de branco que tinham uma espécie de cestos de metal, nuns vinha incenso a queimar e nos outros água. O padre levava na mão uma cruz (onde estava o Menino Jesus já crescido). Ele percorria a aldeia e visitava todas as casas, uma por uma. Entrava, abençoava as casas e as pessoas que lá estavam davam um beijo no Menino Jesus da cruz. Depois já se podia comer e beber aquelas coisas boas que estavam em cima da mesa.

Quando o padre saía de uma casa e ia para a casa dos vizinhos muitas crianças iam com ele, de maneira que nas últimas casas levava atrás dele imensas crianças, a correr e a saltar. Como o padre comia e bebia em todas as casas eu e as minhas irmãs achávamos que ele ainda ficava com uma grande dor de barriga de comer tanto. Nós também apanhávamos os doces que podíamos, claro.

Quando todas as casas tinham sido visitadas, o padre com o seu cortejo voltava para a Igreja, tocavam os sinos e toda a gente ia almoçar (mas eles ainda tinham fome?!!). O resto do dia era só brincadeira e mais brincadeira. Porque a seguir ao Domingo de Páscoa já havia pouco tempo de férias, estávamos quase a voltar para Lisboa e para a escola e era preciso aproveitar!