domingo, 10 de fevereiro de 2008

O Mistério dos Fatos Desaparecidos - I Parte

Autoria: Ideias da Filha, escrita da Mãe

Era uma vez, num país distante, um rei muito vaidoso, parecido com aquele da história “O Rei Vai Nu” que queria ter sempre fatos novos. No quarto dele havia pelo menos uma dúzia de espelhos e todos os dias de manhã o rei se mirava neles, de frente, por trás, de lado e achava-se bonito e elegante. Só depois saía do quarto, todo aperaltado, para os seus afazeres de rei que, como calculam, eram muitos. E durante o dia voltava muitas vezes, para mudar de roupa e fazer novamente o exame da elegância, porque detestava repetir toilletes e queria estar sempre bem vestido, de acordo com as ocasiões. Para se encontrar com o primeiro-ministro vestia-se de uma maneira, para almoçar com a rainha e os príncipes de outra e ainda mudava para ir visitar os seus súbditos, em alguma inauguração que fosse necessário fazer.

À noite havia sempre muitas festas e o rei não suportava não ser o mais bem vestido entre todos os convidados.

No palácio havia um alfaiate, que estava ao serviço da família do rei há muitos anos e que nunca tivera tanto que fazer. Foi preciso contratar-lhe ajudantes e mesmo assim tinham de trabalhar até tarde, às vezes pela noite dentro.

Alguns dos conselheiros do rei chamavam-lhe a atenção porque, com aquela vaidade toda, ele não pensava em mais ninguém e acabava por não ser um bom governante. Gastava muito dinheiro e tempo a vestir-se e a ver-se ao espelho e não se ocupava dos assuntos do reino como deve ser. Mas o rei não os ouvia, dizia que eles tinham era inveja da sua elegância, o que deixava os conselheiros muito descontentes. Já faziam reuniões para resolver o problema, diziam uns para os outros que o melhor era substituir aquele rei pela rainha ou por um dos seus filhos que seriam melhores para o povo.

Um dia, depois do jantar, o rei dirigiu-se ao quarto, para vestir um fato novo que o alfaiate lá devia ter deixado. Era para ele estrear em mais uma festa do palácio, nessa noite. Mas não estava lá nenhum fato novo. O rei chamou imediatamente o alfaiate, para lhe pedir contas. Este, muito espantado, viu que o fato tinha desaparecido. Só que o rei não acreditou e acusou-o de não ter feito roupa nenhuma e estar a querer enganá-lo. Nada do que o alfaiate disse o convenceu e o rei ameaçou que o castigava se voltasse a acontecer uma coisa daquelas.

E é que aconteceu mesmo: a partir daí, cada vez que o rei ia mudar de roupa e contava encontrar no roupeiro mais um fato novo de tecido delicado e colorido, só lá estavam os que já tinha usado e não tinha outro remédio senão vestir um deles. Os súbditos, que já andavam a ficar irritados com aquela mania do rei vaidoso, começaram novamente a achá-lo mais simpático, a pensar que ele tinha mudado e que talvez se transformasse finalmente num bom rei.

Mas ele não se conformava e, depois de muito discutir com o alfaiate, disse que o despedia e que ia contratar outra pessoa em quem pudesse confiar. O alfaiate não achou graça nenhuma ao caso. Ele sabia que tinha posto a roupa nova no armário e que ela não estava lá quando o rei chegava. Não estava disposto a ser despedido por causa de uma coisa que não tinha feito, sem primeiro tentar descobrir o que se estava a passar. Disse ao rei:
-Está bem, V. Alteza despede-me mas antes tem de me dar a oportunidade de descobrir quem anda a roubar os seus fatos. Porque está a cometer uma grande injustiça e ainda se vai arrepender.
O rei gostava dele e, principalmente, tinha muita consideração pelo seu gosto e pela sua competência profissional, por isso disse:
-Eu dou-te essa oportunidade que me pedes. Diz-me o que tencionas fazer.
O alfaiate contou-lhe o plano em que tinha pensado e até apostou com o rei que nunca mais fazia um fato se não descobrisse aquele mistério e provasse que tinha razão. Queria que o rei, por sua vez apostasse que se ele, alfaiate, tivesse razão se tornava mais razoável e só pedia fatos novos quando fosse realmente necessário. Como toda a gente no reino já estava um bocado farto daquela vaidade, apesar dela lhe proporcionar um bom emprego. Tinha vontade de trabalhar para outras pessoas, experimentar outros gostos, por exemplo o da rainha, que era muito elegante, mas em quem o rei pouco reparava, ocupado com a sua própria figura. (continua)

Sem comentários: