terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O Mistério dos Fatos Desaparecidos - II Parte


Autoria: Ideias da Filha, escrita da Mãe

Então uns dias depois, quando o fato seguinte ficou pronto, o alfaiate colocou-o no enorme armário das roupas. Tinha chamado o rei e juntos esconderam-se atrás dos sofás do quarto e esperaram. Estava tudo silencioso à volta deles, só se ouviam ao longe os ruídos da vida no palácio, amortecidos pelos cortinados espessos: carruagens que chegavam e partiam, criados que se movimentavam nas suas tarefas de limpeza e arrumação, o jardineiro que trabalhava no jardim e cantarolava enquanto arrancava ervas daninhas. A certa altura ouviram-se passos, eles pensaram que finalmente o ladrão ia aparecer. Mas logo vozes acompanharam os passos, eram algumas damas do palácio que conversavam e riam, a caminho do chá. O rei, farto daquela posição, acocorado atrás do sofá, começou a sentir-se ridículo: “Ora aí está”, disse ele, “não há ladrão nenhum, tu é que me andas a enganar. Vou sair daqui para fora, estou com fome e é hora do chá!” “Esperemos mais um pouco”, disse o alfaiate e ia acrescentar mais qualquer coisa quando o puxador da porta começou a mexer-se. Esconderam-se melhor atrás dos sofás, fizeram silêncio, suspenderam a respiração. Alguém entrou no quarto em bicos dos pés, procurando não fazer barulho e dirigiu-se ao roupeiro, abriu-o com muito cuidado e parou por momentos, à procura. Depois estendeu o braço e retirou lá de dentro o fato novo. O rei e o alfaiate ainda não tinham visto quem era, esperavam para apanharem o ladrão mesmo a tirar o que procurava. Quando ouviram o ruído do tecido saltaram ao mesmo tempo detrás dos seus esconderijos: “Ah ladrão, estás apanhado!”

E qual não foi o seu espanto quando viram... a rainha. Era mesmo ela, com o fato novo nos braços, virando-se muito surpreendida. Mas rapidamente recuperou do espanto e enfrentou-os, furiosa com o rei: “Apanhaste-me sim senhor, mas o que eu queria era dar-te uma lição e está dada! Já não suportava a tua vaidade. Os nossos filhos e eu não conseguimos ter uma roupa nova, porque o alfaiate está sempre atarefado com as tuas encomendas! As pessoas pensam que tu és um péssimo rei, porque estás mais ocupado com a tua vaidade do que com os assuntos importantes do teu reino. E os teus conselheiros tentaram falar contigo, mas nunca lhes deste ouvidos. Tinha de fazer qualquer coisa antes que todo o povo se revoltasse e escolhesse outra pessoa para governar.”

Agora o surpreendido era o rei. Nunca tinha pensado nas coisas desta maneira. Também nunca ninguém lhe tinha falado assim, porque ninguém se atrevia, afinal ele era o rei. Por momentos lembrou-se das conversas dos seus conselheiros e ministros, da aposta que tinha feito com o costureiro. Olhou de novo para a rainha e reparou que ela era muito bonita e ainda mais assim, zangada, com os olhos brilhantes. Percebeu que todos os que lhe tinham chamado a atenção para o excesso da sua vaidade tinham razão e em vez de chatos, como ele os tinha chamado, eram os seus verdadeiros amigos.

Voltou-se para o alfaiate e pediu-lhe desculpa pela falsa acusação que lhe fizera. Disse como estava arrependido e tencionava cumprir a sua parte da aposta que tinha perdido, pedindo apenas os fatos novos que fossem necessários. Depois, dirigindo-se à sua mulher, agarrou carinhosamente na mão dela e disse: “E tu perdoa-me também, minha rainha. Tenho sido muito parvo. Será que aceitas vir lanchar comigo, só nós dois, para te mostrar como estou arrependido? Ela que, apesar de tudo, gostava dele respondeu: “Aceito, quero bolo de nozes e chá de jasmim.” E pela primeira vez, desde há muitos anos, o rei esqueceu-se de mudar de roupa para a hora do chá.

FIM

3 comentários:

Patrícia disse...

Oláaaaa Isabel!
Já me tinha falado do seu blogge, mas ao vivo é fantástico!!
Parabéns às ideias da filha, Parabéns à escrita da mãe!!! ADOREI ESTAS HISTÓRIAS! E com elas também pude recuar ao meu tempo da escola primária...obrigada!
Um beijinho e até breve!
Patrícia

Patrícia disse...

Ah...e o nome do Blogge está super divertido!!! beijinhos!

Anónimo disse...

Obrigada Patrícia
Espero que te divirtas tanto a lê-las como eu a escrevê-las. É um óptimo exercício de relaxamento depois de um dia de trabalho.
Beijinhos